As portas estão abertas em sua maioria e temo encontrar algum velho nervoso por essas horas da matina. Os portões bem pintados contrastam com as paredes desbotadas de muitas cores: vermelho, bege, marrom. E as janelas sem proteção ou semi-cerradas providenciam um fenômeno de ruídos insólitos. Roncos.
O primeiro parece ser de uma senhora de 40 anos, pouco menos. O som nítido e pouco anasalado só se torna ronco quando toca de leve o céu da boca, é sutil. O outro é estrondoso. Deve ser um homem gordo que reclama de tudo, pois não há nenhum pudor (se é que existe) em eliminar o ar por bocas e nariz. Há mais uns dois mas não pude identificar, eram baixos e meus passos e respiração confundiam a minha audição.
Recordo-me de uma passagem do livro "O Encontro Marcado", de Fenando Sabino, em que um velho sábio e bêbado diz a Eduardo Marciano que o sono é a expressão mais sincera do ser humano. O rosto, as feições e, presumo, o ronco. E se alguém me perguntar, as "calles" de Sevilla respiram sim, e alto.
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