segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A elegância sob o efeito do rum




Ainda não vi Rum Diary, filme que narra a estada de Paul Kemp (er, Hunter S. Thompson) em Porto Rico em busca de trabalho, calor, mulheres e rum barato. Mas li  Rum: Diário de um Jornalista Bêbado (Companhia das Letras) e foi a primeira coisa que conheci  em profundo do jornalista que inspirou o gênero gonzo no jornalismo.

Esperava páginas repletas de viagens e chapação sem fim, tal qual sugere o filme Medo e Delírio em Las Vegas, de Terry Gilliam. (Tou ligado, vou ler o livro.) Porém, a elegância do sujeito ranzinza em escrever sobre San Juan, capital de Porto Rico, e suas histórias é impressionante. A descrição das bebedeiras, do sexo, das brigas e dos pensamentos de Thompson são despojados mas de maneira elegante. Cada erguida de sobrancelha ou enxugada de suor da testa é dita por um narrador que está dentro da história mas mantém uma distância dos fatos. É demais. Lembro da descrição de um dos funcionários do jornal de Kemp, quando soube que o jornal podia acabar.

"Nervoso, trocou o peso da perna esquerda pelo o da direita", parafraseando da minha cabeça mas tá valendo. Genial.

Cada imagem se forma fácil diante dos olhos do leitor. As ligações da mente de Thompson apesar de confusas são postas claramente, ouso dizer até objetivamente. A história das personagens, a composição psicológica, a paranoia, os inevitáveis arquétipos são simples e facilmente inteligíveis. Características inerentes ao jornalismo e ao pop.

O livro não tem um mote incrível. São apenas as histórias e reflexões de um jornalista bêbado em uma cidade calorenta fora da América que procura algo novo de sua vida que não seja o frio e as mesmas pessoas de Nova York. (Hunter tinha 23 anos quando saiu de NY, demitido de um jornal. A época era 1960.)

Mas a escrita é atraente, mais especificamente as análises de Thompson ao final de cada capítulo são o que me levaram ir ao final de cada microhistória. A vida, o fracasso, a solidão... tudo entrelaçado em acontecimentos aparentemente triviais que fazem você pensar em como ele sacou a essência das pessoas e a sua própria.

Outro momento genial é quando depois de uma surra homérica, uma prisão injusta e dois dias sem dormir, Kemp caminha pela San Juan deserta, fria pela manhã e descorre sobre a beleza da cidade e o seu silêncio estranho. Linda passagem sobre a presença do fracasso e a vitória dentro de um mesmo homem.




 








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