sexta-feira, 9 de março de 2012

Vanguart e os meus 22 anos



"E aê cara?! Vi você cantando todas as músicas lá!" Tinha meus 18 anos quando ouvi essa frase. Seis anos depois escuto a mesma sentença. Mas, obviamente, tiveram significados diferentes. Quem disse foi Hélio Flanders, depois de um show do Vanguart. O primeiro em São José dos Campos e o segundo em Bauru.

Muita coisa mudou. Eu era um perdido estudante de cursinho que por alguma razão queria ser jornalista. Tinha escutado inúmeras vezes o primeiro disco do Vanguart e os EPs anteriores, Ready to Vallegrand e The Noon Moon. Tinham algo de estranho nas primeiras audições, mas com o tempo o disco se tornava mais íntimo. Era um caminho diferente a seguir. Folk, rock, metáforas sobre drogas ("Last Express Blues"), citações diretas ao álcool ("Cachaça"), covers de Raul, um cabelo parecido com o meu o qual queria se parecer com o de Bob Dylan... Houve uma identificação ingênua e esperançosa, de alguém que tinha uma nova vida inteira pela frente, repleta de novas histórias e pessoas. Comecei a ler On The Road, ouvir Dylan e gostar de cultura, música.

Agora quatro anos depois, estou mais cético quanto a imagem do Vanguart para mim. Após o show ele citava São Paulo, canções de Dylan, indicava Albert Camus para a Flan, cantou Luís Gonzaga... e falava muito. Pode ser coisa de jornalista (?) mas sempre fico com um pé atrás com admirações exageradas. No entanto, escrevo escutando Blood Money, do Tom Waits.

O último disco, Boa Parte de Mim Vai Embora, é sobre dores de relacionamentos, autobiográfico até a raiz e velado por metáforas às vezes vazias, outras lindas, lindas. Hélio usa o que viveu pra produzir alguma coisa, neste caso um disco. E apesar de eu estar mais ranzinza quanto a tudo e todos, ainda acho um disco bom, de momentos bonitos. A tentativa de fazer poesia em música é sempre louvável, ainda mais quando dá certo em cinco ou seis faixas, o que é muito pra hoje.

(E eu te levei até a praia/ E eu me desfiz da minha esposa/ E eu joguei fora o meu dinheiro/ Fechei a porta pra um amigo/ Eu só sonhei meu desengano/ Eu desenhei as tuas pupilas)

Ele tem 26 agora. Tinha 22 antes. Tenho 22 agora.

A vida está passando. Antes era aquele trem de Vallegrand indo pra New Orleans que passava piando, vazio. Eu só com uma mala e um sorriso no rosto. Está na hora de fechar a cara, de ir e não olhar para trás, de saber falando, fazendo, andando.

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