Texto meu sobre o Criolo. Originalmente saiu no e-colab. Fotos minhas e do Bruno Christophalo.
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CRIOLO: O MÉRITO DE UNIR UNIVERSOS DISTINTOS
Na real, o grande mérito do Criolo (e do Emicida também) é modificar a estética do rap nacional sem deixar o legado de Racionais MCs e outros clássicos para trás. Essa mudança gera um fenômeno visto na Antiga Dolce no domingo, e que acontece aonde quer que o Criolo vá: todos vão ao show dele, desde o cara que mora nas quebradas da cidade até o cara de camisa flanela e cabelo liso... Ambos não param de cantar durante o show.
Apesar de não entender a realidade do rap nacional, o boyzinho reproduz o discurso e, querendo ou não, se infiltra dentro desse universo que ele não conhece (e nunca vai entender). Só entende quem é de lá, eu não sou.
Lá, não tem sucrilhos, isso não existe. É pão com manteiga e café de ontem para começar o dia. Tem padaria que não vende pão. Os cachorros “passa” e é “pex pex”... a rua é a casa do cara. Jogo do bixo come solto. As criançada tão de HK e “são só por Deus, viu”. Um mundão aonde “as criança” chora e a mãe não vê. (As aspas são contravenção, o que importa é dizer o que deve ser dito e gíria não deve ser explicada. Aliás, gíria não, dialeto).
Talvez por influência de Daniel Ganjaman, produtor do disco e literal regente do show, Criolo sai (de leve) do formato rima-batida e vai caminhar pelo reggae, afrobeat, samba e o brega. E varia o discurso também. Ele é a crença amor na clichê (clichê?) “Não Existe Amor em SP”. Beat dançante em Mariô e Bogotá (Fela e Mulato, didático, mas obrigatório). Sambinha de quintal na forte linha de frente de que quem tá lá, “não pode amarelá”. E brega com “Freguês da Meia Noite” que seria um Cauby Peixoto no boteco falando de “furta-cor” e “doce”. (Os medalhões podem ser brega e o doido do Grajaú, não?).
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