domingo, 30 de dezembro de 2012

Programa Atalho e o meu 2012



Depois que voltei da Espanha e tive contato íntimo com uma linguagem que me instigava há muito, o audiovisual, a ponto de cair de paraquedas como assistente de direção do curta-metragem Pedro Caballero, Guionista, voltei querendo estrear a câmera nova e praticar o que aprendi em terras sevilhanas.

Foi aí que fui convidado pelo PET-RTV da Unesp a ajudar a criar um programa audiovisual para internet a ser pensado, discutido e executado durante o ano. Felizmente, foi o projeto a que dediquei o meu 2012.

Com uma equipe incrível (Mari, Bia, Giovani, Luci, Pablo, Laura, Fer, Vini, Alexandre, Vitor, Diana, Bruno e Beatriz), o Programa Atalho nasceu optando por percorrer o caminho mais difícil: ser jornalístico mas com estética própria e diferente da bancada do telejornal; ser documentário e não esquecer o valor-notícia e ser atraente em uma plataforma ainda a ser completamente explorada no audiovisual, a internet. Criamos, assim, o Programa Atalho, um produto de videorreportagens que transita entre a estética do documentário, a relevância jornalística e a rapidez da internet em três minutos de duração. Sempre tentando aliar pautas de interesse do público universitário e da cidade de Bauru.

Durante quatro meses de execução (os outros quatro valeram para estudo, discussão e programas-piloto), realizamos seis vídeos: Projeto Taquara/Bambu, Plenária dos Cursos de Comunicação, Fórum Regional de Hip Hop do Interior Paulista, Festival Interunesp MPB de Ilha Solteira, Semana de Jornalismo 2012 e Observatório de Astronomia da Unesp.

Dá muito orgulho ver cada um dos vídeos prontos e saber que valeu a pena todo o trabalho da nossa equipe em fazer algo em que acreditamos desde o início. Valeu Atalho! Que venha 2013!

Este último do Observatório é nosso xodó, confira aí abaixo:


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Textos do Arnaldo Branco

Só para lembrar que os textos do Arnaldo na Bizz e na Zé Pereira são tão fodas quanto os famigerados quadrinhos. E vamos ler.

Soul Wax + Bowie

Fora o fato de se um longa de mais de uma hora aludindo ao legado do Dave aí, ainda é dica para um som para festa.



RSWX presents Dave from Radio Soulwax on Vimeo.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

"Pedro Caballero, Guionista" na TV Unesp



Há pouco menos de um ano, eu estava em Sevilha, Espanha, durante intercâmbio. Tive a feliz escolha de não apenas estudar jornalismo durante minha estada de seis meses, mas também produção audiovisual. Assim, conheci um grande amigo na incrível aula de Trilhas Sonoras de Carlos Colón (trabalhou com Fellini, conhecia cinema como ninguém e era nada arrogante). O amigo  que conheci era o italiano Pierre Faiazza, estudante de cinema em Bergamo, Itália, que também assistia às aulas.

Papo vai, papo vem, nos tornamos amigos de sempre depois das aulas conversar sobre cinema, mulheres, a vida... Como éramos poucos os estrangeiros que estudavam comunicação audiovisual, foi fácil conhecer os outros amigos (Malu, Vadim, Paloma, Pietro, Lise, Gabo, Carmen e muitos mais) e esses fariam parte de uma ideia de projeto de Pierre: uma história de um roteirista que precisa dialogar com seu personagem para ter a sua trama completa.

Esse foi o início de Pedro Caballero, Guionista, curta-metragem que realizamos em Sevilha em que fui assistente de direção e que, quase um ano depois, teve sua exibição na TV Unesp dentro do programa Curta Unesp. Nele, eu e Pierre (ele por Skype e eu no estúdio) falamos sobre os momentos que passamos em Sevilha, a ideia do curta, o processo de produção e histórias que dão saudade.

Aqui o programa da TV Unesp com entrevista comigo e Pierre e o curta-metragem no final:


E aqui apenas o curta pra quem não quiser nos ver falar:




E, com o tempo, vejo e verei (acho) que o curta é cada vez mais um registro de um momento desses jovens em uma cidade tão linda (e agora emblemática para mim) que passamos por tão pouco tempo e que nos marcou tanto.


Atores: Gabo Da Luz Moreira, Manuel Gonzalez, Cristian Avila Dominguez, Lise Dieumegard.

Escrito, dirigido e produzido por Pierre Faiazza.

Assistente de Direção: Renan Simão
Direcão de Fotografia: Paloma Pineda
Operador de Câmera: Vadim Alsayed
Captação de Som: Eduardo Macias
Maquiagem: Laura Maria Villalba
Runner: Pietro Vallome
Música: Manuel Muriel Rivas.
Desenhos: Carmen Cardoso Garcia.
Catering: Melanie Godefry-Martin
Consultora: Samantha Jimenez Albi
Edição: Pierre Faiazza

Rodado em Sevilha, Espanha, em Janeiro de 2012.


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Eu no Screamyell: Entrevista Lucas Santtana



Divulgação

Como é de praxe, posto aqui meus trabalhos. O da vez, mesmo relativamente atrasado (de maio), é uma entrevista com Lucas Santtana que fiz junto com o Sérgio Vianna originalmente para o e-Colab e depois saiu no Screamyell. Muito orgulho entrevistar um artista que gosto muito e depois ver o resultado num blog que leio diariamente. Siga os links e dê uma olhada.



quinta-feira, 5 de julho de 2012

rotatória

A cabeça baixa. Os pés pesados sentindo cada passo até a porta do ônibus. Entrego o dinheiro para o motorista e espero o troco. Não confiro, coloco as notas no bolso, penso que sempre as coloco no bolso e não na carteira. Espero a fila da catraca. Dia quente, muita gente.

Agarro o ferro acima de mim e, de pé, sigo viagem. Os braços não fazem força, estão cansados. A mochila lembra meu corpo da realidade, dos deveres do trabalho, do peso. As gotas de suor caem por meu rosto, mas não as enxugo. Os olhos perdidos não querem motivo, mas vacilam e encontram algum rosto cansado dentro do ônibus e, felizes ou tristes, as pessoas não me dizem nada. As pernas se sustentam. Os braços seguram o ferro, suavizam os trancos do carro que, fortes ou fracos, não me importam.

Sem perceber, vejo a rotatória logo ali. Seguro o ferro com mais força e espero, sem vontade, a gravidade me forçando a sair do lugar. A rotatória tem algo no centro. É mato. O ônibus começa a curva: as mãos suadas deslizam, mas agarram a sustentação. Os braços se esquecem delas e relaxam aos poucos. Sinto os músculos se alongando, deixando os ossos encontrar outros lugares que não os mesmos de sempre. O ônibus que antes deixava-se ir com uma descida, acelera. As costas estralam. Deixo o peso dos pés se distribuir e suavemente vai equilibrando-se entre a base do calcanhar. O suor escorre para o pescoço, os olhos veem apenas o centro da rotatoria, o mato. O verde, antes morto, ganha movimento. Consigo ver os feixes de luz batendo no vidro e vindo aos meu olhos, coloridos, com a circunferência verde desfocada ao fundo. Estamos na metade do percurso e a minha mochila já descola das costas suadas, suspende-se no ar presa apenas pelas alças dos ombros, flutua, me força para trás, e deixo. Fecho os olhos. O corpo encurva-se quase por completo. Sinto as mãos o mínimo: apenas para lembrar que estão ali. Não sinto mais os braços. De relance, abro um olho e vejo o ônibus vazio, ergo a cabeça e fecho os olhos novamente. A caixa de lata antes hermética, agora recebe ar por todos os lados. Um vento vazio faz a cabeça erguer-se novamente querendo mais ar em movimento. Respiro fundo, devagar. As pontas dos pés passam rente ao chão mas não os tocam. E não quero mais voltar.



segunda-feira, 30 de abril de 2012

Medalhões revisited

Essa coisa de recriar capas de revistas ou de discos clássicos é recorrente. A revista Serafina, da Folha, revisitou discos clássicos com artistas de reconhecimento de nicho, sem ser mega-populares ou ter relação direta com gravadoras. Uma nova geração fazendo música por uma nova lógica homenageando os seus mestres.



Essa do Cartola/Criolo ficou classe.


Só precisam avisar eles para isso não acontecer a cada três anos. Em 2009, a Trip fez o mesmo com a capa clássica da Revista Realidade de 1966, quando lançava a nova safra da música brasileira da época funcionando como produção coletiva, um influenciando (não diretamente, é verdade) no trabalho do outro. Olha o resultado aí:



Homenagem ou artifício da crítica pra fortalecer uma cena, o resultado ficou bem legal. E a Trip acertou nas escolhas de Céu, Romulo Fróes e Hélio Flanders. Ganjaman e Kassin já eram figuras carimbadas: o primeiro com Planet Hemp e Racionais e Kassin com Los Hermanos, Acabou La Tequila e Orquestra Imperial.

Dá pra reconhecer todo mundo das fotos?

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O cheiro do ralo – as coisas


As coisas acontecem independentes da gente. Nós é que depois criamos o seu sentido.




As coisas não são apenas coisas. Podem ser apenas coisas, mas em geral são mais que isso por que a gente quer que sejam. São carregadas de significado, de história, de lampejos de ações, de esperança, de desespero. São luzes que indicam caminhos dentro da sua cabeça. Clareiam uma tal verdade e encoberta todas as outras verdades. Epifania ou paranoia, as coisas são independentes em sua existência se vistas distantes. De dentro de um contexto, de uma estória, de uma casa, de uma mente, adquirem força de trilha a ser seguida, de destino, mesmo que dure o tempo de uma obsessão. E isso sempre acontece.

[spoiler, mas leia.]

O cheiro do ralo: O ralo fede e isso o incomoda. Seus clientes vão perceber e ele não quer que pensem que ele cheira mal. Mas então ele se importa com os clientes? Não. Os maltrata, mente, joga. Natureza da negociação diária talvez, o homem aprende a ser impassível, saber o que quer em pouco tempo, saber o que vale e o que é inútil. O fedor do ralo não é insegurança, mas a coisa que ele precisa para estar de acordo com as suas conjecturas, os seus caminhos.  O mau cheiro influencia o seu modo de ser. Mas fedia e por isso tampou o ralo. O cheiro acabou. A vida virou uma merda. Tornou-se obcecado pela nudez barata e foi à delegacia por isso. Ainda seguro com as suas inseguranças, ele estava bem até que estava sem a bunda. E o cheiro do ralo fazia falta. Que faz? Constroi outra coisa, outra obsessão.

A bunda: De início a moça era uma garçonete simpática que não poderia dar nada além de uma transa vazia a se esquecer facilmente. Mas ao ver a bunda, ele se esquece do resto, do todo. Começa a fazer conjecturas sobre a bunda como se a possuísse, imaginando-se apenas com ela, a bunda. Para isso comeria todos os hambúrgueres de merda do bar, beberia todos os refrigerantes só para vê-la (a bunda, somente ela) empinar-se para ele. Ao longo dos dias, chega a uma conclusão devastadora. “Não quero casar com essa bunda. Não quero convites indo para a gráfica. Quero comprar ela”. Ela tem um preço, merece um preço, tem um valor. Valor criado por ele e só por ele. Nesse sentido ele é livre em partes. Não se importa com as pessoas fora de seu círculo (ou da bunda?), com a mulher recém-largada com os convites impressos na gráfica, com a sua alimentação... É livre para ficar preso à sua bunda. Não quer conquistá-la (a moça), não quer nada mais daquilo que anseia. Só ela, a bunda, é o motivo para acordar todos os dias, trabalhar, comer, etc.

O olho: Se vê fascinado por um olho que diz ser de um soldado na Segunda Guerra Mundial. Seu pai também estava na guerra. Era tudo o que precisava para ter o seu pai de volta à vida. Era o novo amuleto, brinquedo, amigo e muleta existencial dele. Mostrava a todos com orgulho. Via com auxílio dele, queria que ele visse com ele.

O cenário: Uma loja de quinquilharias, ou melhor, de coisas de todos os tipos. Uma pequena versão do mundo em que vivemos. A parte pelo todo. Como a bunda. Um galpão aparentemente vazio de vida e cheio de pó, mas que continha a quantidade de histórias que ele quisesse e criasse. Como a bunda... Apesar de ser uma senhora bunda ela, abstraída de símbolo, não era nada mais que uma bunda, contudo para ele era um caminho a seguir, um destino, uma coisa.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Kassin e o complexo de inferioridade da crítica musical brasileira



Dentre outras coisas (gap geracional atual, tropicalismo, vida de produtor-hype de cabelos brancos moderninho), Kassin fala do "pagar pau pra gringo" da crítica cultural brasileira:

"Tem uma coisa que me incomoda na crítica brasileira em geral... Percebo isto principalmente quando vou aos prêmios, sabe? É que existe a ideia de que a música popular é a porta dos fundos. É um erro. O Brasil sofre de um grande complexo de inferioridade em relação ao exterior. É muito mais provável você ver uma primeira página de caderno cultural com a Britney Spears ou a Whitney Houston do que com o Wando. Que morreu e... Até me surpreendi em vê-lo nas primeiras páginas! Na verdade, só morrendo ele conseguiu chegar lá. Se ele lançasse um disco de estúdio, ninguém ia dar a menor bola. Só se estivesse de calcinha na capa ou em qualquer outra situação polêmica. Um disco da Ivete [Sangalo] não é tratado com a mesma seriedade que um disco da Rihanna, por exemplo. É mais provável que um disco do Pretenders tenha boas críticas e melhores espaços nas publicações do que um disco do Barão Vermelho ou do Frejat. A grande maioria dos jornalistas usa as revistas importadas como principal fonte de consulta. Pegue a Fader [aponta para a revista norte-americana que se encontra sobre a bolsa do fotógrafo Daryan Dornelles], que é a que todos os jornalistas lêem e me diga... Qual a diferença entre a banda que aparece aqui e a Dorgas? Nenhuma! Mas aqui tem uma foto bonitona, sacou? E é a novidade da parada. É o que está foda! Aí a imprensa faz um movimento! Bota o pau na mesa e diz que é do caralho. E os sites e blogs repetem. É esta a lógica. Já fui a festivais lá fora: Roskild, Primavera Sound, Sónar... Você chega lá e, cara, a grande maioria, está uma merda! O som é um horror, todo mundo toca mal, desafina... Tecnicamente e esteticamente é uma merda. É banda sem estrada, é banda com gente que não sabe tocar... Mas eu acho do caralho! Estou falando de algo que vejo e que admiro, mas por que aquilo é melhor do que o que se faz aqui? Aquilo é tão pop quanto o que nós produzimos. Na minha concepção de música pop, Timbalada e Timbaland são a mesma coisa. Não pode haver aí uma escala de valores, nem muito menos de status. Não aceito estes parâmetros. Acho de uma ignorância só. Jay-Z e Mc Marcinho para mim são a mesma coisa. O que muda é o valor que as pessoas dão. E você percebe isto nos cadernos culturais. Cara, qual a diferença entre a Paula Fernandes e a Taylor Swift?! Nenhuma! É a mesma parada. Então porque ninguém comenta o disco dela com seriedade? Porque ninguém escreve um texto que não seja um ataque? Na crítica do disco da Taylor Swift os jornalistas parecem saber os nomes de todos os músicos e produtores que estão na ficha técnica! Cara, isto é complexo de inferioridade. E acho que ultimamente os jornalistas estão cada vez mais mal preparados. Os textos são fracos. E há também outra coisa: Se você tem uma revista, deveria falar bem do que está nela. Porque, afinal, você se dedicaria a falar de algo que odeia?! Porque não utilizar então este espaço para falar positivamente de outro artista?"

E ainda corrobora com o sentido de artista como processo e não como perpétuo quando fala do tecnobrega e da Gaby Amarantos. Sentido esse que é a natureza da música do próprio Kassin.

"Eu admiro muito estes fenômenos populares de musica eletrônica: O tecnobrega, o funk carioca, a cumbia villera, o kuduro... Para mim, presenciar o surgimento destes gêneros é como se eu estivesse vendo o nascimento do samba. Você está vendo um estilo sendo gerado, ganhando forma. Não creio que o tecnobrega ou o funk sejam diferentes do samba quando este surgiu. Os padrões vão se repetindo até chegar ao ponto em que se tornam um recurso estilístico definível. Esteticamente, é algo muito interessante de se acompanhar. Há um frescor nestes sons, por não estarem atrelados ao formato de disco, por não haver um assessor de imprensa e por não estarem inseridos dentro dos padrões tradicionais de consumo... As músicas são crônicas do que acontece durante a semana. Elas tocam por um tempo e depois somem. Você não acompanha o artista propriamente... Acho um fenômeno interessantíssimo."

Daqui. O URBe que avisou.

domingo, 25 de março de 2012

Criolo em Bauru


Texto meu sobre o Criolo. Originalmente saiu no e-colab. Fotos minhas e do Bruno Christophalo.

***

CRIOLO: O MÉRITO DE UNIR UNIVERSOS DISTINTOS 

 

Na real, o grande mérito do Criolo (e do Emicida também) é modificar a estética do rap nacional sem deixar o legado de Racionais MCs e outros clássicos para trás. Essa mudança gera um fenômeno visto na Antiga Dolce no domingo, e que acontece aonde quer que o Criolo vá: todos vão ao show dele, desde o cara que mora nas quebradas da cidade até o cara de camisa flanela e cabelo liso... Ambos não param de cantar durante o show.
Apesar de não entender a realidade do rap nacional, o boyzinho reproduz o discurso e, querendo ou não, se infiltra dentro desse universo que ele não conhece (e nunca vai entender). Só entende quem é de lá, eu não sou.


, não tem sucrilhos, isso não existe. É pão com manteiga e café de ontem para começar o dia. Tem padaria que não vende pão. Os cachorros “passa” e é “pex pex”... a rua é a casa do cara. Jogo do bixo come solto. As criançada tão de HK e “são só por Deus, viu”. Um mundão aonde “as criança” chora e a mãe não vê. (As aspas são contravenção, o que importa é dizer o que deve ser dito e gíria não deve ser explicada. Aliás, gíria não, dialeto).

Talvez por influência de Daniel Ganjaman, produtor do disco e literal regente do show, Criolo sai (de leve) do formato rima-batida e vai caminhar pelo reggae, afrobeat, samba e o brega. E varia o discurso também. Ele é a crença amor na clichê (clichê?) “Não Existe Amor em SP”. Beat dançante em Mariô e Bogotá (Fela e Mulato, didático, mas obrigatório). Sambinha de quintal na forte linha de frente  de que quem tá lá, “não pode amarelá”. E brega com “Freguês da Meia Noite” que seria um Cauby Peixoto no boteco falando de “furta-cor” e “doce”. (Os medalhões podem ser brega e o doido do Grajaú, não?).



Criolo é som de preto, de pardo, de favelado e ostenta isso. A sacada é que música é universal, né, mano. E se é boa, não importa cor, mais ou menos dinheiro e poder. Pode ser na quermesse, no campão ou na balada dos “boy”, Criolo não esquece que “Rap é compromisso” mas representa todo mundo... E quando começa a rimar não há fronteiras para entender a realidade de um outro universo. É tudo um, é música.


Vídeo-entrevista: Vanguart



Vídeo-entrevista com o Vanguart no Sesc Bauru durante o Grito Rock que saiu no e-Colab. A íntegra da entrevista você pode ler aqui e ver fotos do show aqui. Créditos do vídeo: Paulo Soucheff.

Ficou bem legal.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Grito Rock '12 - Domingo na Estação


Segue abaixo texto e fotos que fiz para o e-Colab sobre a banda Sonso e o domingo que fechou o festival Grito Rock 2012 - Bauru, organizado pelo Enxame Coletivo.

Rock e chinelo

Um pessoal sem camisa, chinelos havaianas por todos os pés, as meninas com as digníssimas blusinhas de alcinhas, cerveja gelada e bandas debaixo da árvore. Um domingo essencialmente de rock, às vezes suingado, outras viajandão, mas sempre deixando a impressão do sentir-se bem. Mais do que apropriado para o último dia de Grito Rock no complexo da Estação Paulista, Centro de Bauru.

O Sonso                                                   
Três das cinco bandas atrações da tarde tinham - pra nosso deleite - um sotaque diferente do nosso caipira. Los Porongas vieram do Acre (que dispensa a piada), O Jardim das Horas e O Sonso são cearenses. As três bandas são amigas, compartilham integrantes e ideias. E vieram na mesma van até Bauru!

Quem abriu o dia foi O Sonso, o rock mais dançante do domingo. A voz gripada do vocalista Daniel Groove não atrapalhou a vontade de falar de desenganos amorosos, descompromissados casos, da dor de alguém que foi embora ou do gosto de quem ficou. E as guitarras setentistas, Velha Guarda, um teclado progressivo dão um que de rock-balanço pra banda. Escute “Seu amor” e veja se não vale o clique:


E pra fechar o setlist ainda rolaram covers de “Lindo Lago do Amor” e “Jorge Maravilha”. A tarde estava boa.




segunda-feira, 12 de março de 2012

Trailer: "On the Road"




Com direção do Walter Salles, o longa tem Sam Riley (o Ian Curtis de "Control") no papel de Sal Paradise e Garret Hedllund como Dean Moriarty, além da Kirsten Stewart como a Marylou. O trailer é legal mas eles estão muito limpos pra uma galera que atravessa duas vezes os Estados Unidos de carona e usando benzedrina pelo caminho.



O filme é uma adaptação do livro "On The Road" de Jack Kerouac de 1957.

Vi no IG.

Entrevistão Vanguart


Entrevista originalmente publicada no e-colab durante o Grito Rock 2012 e que posto aqui na íntegra. 

Na pauta: o novo disco "Boa Parte de Mim Vai Embora", tocar de graça, SESCs e Fora do Eixo, Luiz Gonzaga, geração de bandas cover, os discos do Lobão nos anos 90, Cida Moreira e "cantores que morrem no palco". Os créditos todos estão aí abaixo e pode clicar nas fotos que elas ampliam.


Papo de Boteco
Introdução e transcrição por Luís Morais 
Entrevista por Luís Morais, Lígia Ferreira, 
Renan Simão (e-Colabers) e  
Thales Schimidt, Felipe Amaral e Solon Neto
Fotos por Renan Simão

A proposta era uma entrevista. Quando os 6 integrantes da Vanguart sentam na mesa e aguardam as perguntas, logo percebi que seria algo diferente. Não era aquela chatice de uma pergunta padrão e uma resposta padrão para a mesma. Era um bate papo. Uma roda de conversa. Com todos respondendo.



Só faltava o ambiente de buteco e algum som no fundo. As latas de cerveja com copos cheios de biscoitos eram o que a banda desfrutava. Em frente a eles, cerca de 10 jornalistas, fotógrafos e videomakers fazendo o seu trabalho. Que ficou muito mais divertido do que a padronizada entrevista coletiva.

O resultado da meia hora de conversa vocês leem a seguir. Sobre vários temas. Mas tudo em torno do principal: cultura. No caso, a musical. E o Vanguart deu uma aula de como as bandas novas devem se virar hoje em dia. Além de falarem sobre Lobão, Cida Moreira, festivais independentes e muito mais.

Não é uma entrevista. É a transcrição de um papo de buteco. O que vale, e muito, a pena ler.

Vocês agradeceram ao SESC por vir tocar aqui hoje. O que é tocar de graça pra galera?

Hélio Flanders: Indo bem na raiz da questão, Brasil é um país de muita grana onde todo mundo está fodido. Isso não faz muito sentido. E tocar de graça é sempre algo muito especial. O SESC é uma benção no nosso cenário. Não faz mais do que a obrigação, mas isso no nosso país já é muito. Mas não é só porque eles estão fazendo a obrigação que nós não vamos valorizar. Tocamos com um som bom para pessoas bacanas. Nós temos que valorizar quem está fazendo algo pela nossa cena cultural. Muito mais do que para a cena rock ou qualquer outra coisa.



O público que acompanha vocês, hoje (dia 7, dia do show) foi mais universitários. Mas nos shows em geral, como é?

Reginaldo Lincoln: O nosso público varia muito, mas muito mesmo. Os shows que a gente mais gosta são os shows livres, não de pagamento, mas de censura livre. Crianças assistindo shows com os pais, avôs. E ainda conseguimos manter uma comunicação muito legal durante o show. E eles gostam do momento, gostam da banda ou gostam de alguma canção em especial. E temos pessoas de várias idades, de classes sociais, etnias.
Luiz Lazarotto: E o SESC proporciona isso pra gente. Muita vezes a gente toca em balada, 2 da manhã, só pode entrar maior, e aí você pega e faz um show mais cedo, 9 da noite, censura aberta. Lembro até do último show em Araraquara que tinha um casal, um tiozinho e uma japonesa que ele a usava como guitarra até.
Reginaldo: E legal também que é a viabilidade da sobrevivência da banda. No caso o cachê, a gente vive disso. Ninguém dá dinheiro pra gente a não ser nosso show. O SESC sempre tem oportunidades ótimas de cachê, de lugar bom pra tocar com um som bom, e dá oportunidade para o público de qualquer classe, com 1 real ou 30 reais assistir aquele artista.
Fernanda Kostchak: O que eu acho legal é que pelo fato de ser gratuito começa a inspirar no público essa atitude que hoje na internet existe muito de você procurar. Você tem uma infinidade de opções na internet, só que aquela atitude de sair de casa e ir atrás de uma coisa que você gosta não é ainda do nosso cotidiano. E tendo espaço e ambiente pra isso, começa a tirar do mundo virtual onde você assiste o show que quiser gratuitamente e trazer pro espaço físico, vir aqui prestigiar uma banda, e fazer disso também seu cotidiano cultural.



E para vocês, qual é a importância dos festivais independentes?

Hélio: Sendo bem sincero, hoje no Brasil não tem essa de “eu sou isso, eu sou aquilo”. Se a gente tá lutando pelo mesmo ideal, tem que trabalhar junto e unir forças. Juntar um Grito Rock, por exemplo, que é uma das ideias mais legais dos últimos anos.
(nesse momento, Douglas lembra que o Vanguart estava no primeiro Grito Rock em Cuiabá, e Reginaldo comenta que eles venceram, e como prêmio fizeram outro show)
Douglas Godoy: Não que eu não goste de carnaval, mas o Grito Rock foi uma opção naquela época, que todo mundo queria fazer, mas ninguém tinha coragem em Cuiabá. Todo mundo achava que não ia dar certo você fazer rock no carnaval. Mas no Carnaval você pode se divertir com rock, samba, pagode...
Hélio: Falando sobre esse paralelo: o SESC tem feito um trabalho louvável. Os festivais independentes, idem. Hoje pra gente foi uma surpresa muito boa, saber que esse show está veiculado ao Grito Rock, com os coletivos daqui de Bauru, que tem tudo a ver com jovem, com universitário, especialmente com gente que batalha pela cultura. Eu acho que isso é vital. Daqui há uns anos isso vai continuar vivo dentro de vocês, eu espero. E vão passar isso pra outras pessoas, que vão pelo menos ter tempo hábil pra isso.
Reginaldo: Porque você acredita o seu tempo naquilo. Independente de você ter um ganho ou não, você faz aquilo porque você quer fazer.
Hélio: A gente faz porque é artista. Você faz porque são jornalistas, videomakers, etc. Acho que isso é uma grande troca, e parece que hoje é normal. Mas não, isso há 5 anos não existia. Ou você era o Capital Inicial ou você não era nada. E hoje a gente tem grandes bandas no Brasil que sobrevivem na medida do possível na honestidade do seu trabalho árduo e apaixonado, através disso: de Grito Rock, de festivais, de pessoas que estão aqui. A gente parou de olhar só pro nosso umbigo e tá olhando pro amanhã. Pode parecer ser meio sonhador, mas no fundo é isso. Que seja pra nós mesmo, se a gente tá pensando em algo melhor ou algo pra depois.



O que vocês não fizeram que ainda tem muita vontade de fazer?

Hélio: A gente só quer gravar bons vídeos e fazer shows legais com pessoas legais na plateia. As vezes fazemos uns shows nada a ver, com uma galera “chacoalhando joia”, pagando ingresso caro. O legal é esse que rolou hoje. Parece que foi crescendo porque a gente foi falando “ó galera, a gente tá aqui porque a gente gosta, essa é a nossa vida. Eu to com a voz ruim, mas tomei umas biritas, acho que vai rolar cantar”. Tocamos Luiz Gonzaga, tocamos Dorival Caymmi e nossas músicas. Isso foi tudo que a gente tinha pra oferecer. E a gente saiu e tinha uma menina chorando dizendo “muito obrigado, hoje foi muito legal”. Pronto, pra mim a arte é isso. “Ah, pretensioso, arte”. Não, arte é isso, como é o quadro daquele doidão que você ri dele no campus, aquilo é arte também.

E essa relação que vocês tem com Beatles, de tocar paralelo com a banda de vocês, e a cena independente, que em Bauru é muito forte, que tem muita banda independente.

Reginaldo: Tem cidades pequenas que existem uma grande manifestação autoral. E eu não vou nem cita-las. Mas São Paulo por exemplo existe uma grande manifestação do cover também.
Hélio: Infelizmente de uns 2 anos pra cá o Brasil está sendo tomado pelo cover. E a gente tem culpa nisso, porque temos um show de Beatles. Infelizmente nós temos que pagar o aluguel. É uma maneira de se vender de um modo que você gosta. A gente preferiu tocar Beatles uma vez por mês e não ter que mudar nosso som pra agradar ninguém - e nem arrumar um emprego. Não adianta se iludir ''ah, monte sua banda independente, vá tocar no Brasil que você vai pagar seu aluguel”. Você não vai pagar seu aluguel, não existe essa ilusão. É muito difícil você sobreviver fazendo sua própria música. Eu discordo daquela: “ah, mantenha seu emprego e continua sua banda”. Acho que não, acho que você tem que gastar o máximo do seu tempo com a sua arte, se não ela nunca vai pra frente, mas ao mesmo tempo você tem que dar um jeito. Isso é o “brazilian-way”, né. O nosso jeito foi tocar Beatles.
Reginaldo: Na verdade o Vanguart é um coletivo também, como o Fora do Eixo. Você tem que se manter. Você tem que ter um dinheiro. Que seja um que esteja conseguindo dinheiro pra todo mundo fazer a mesma ideia funcionar. Eu já vi isso acontecer.
Hélio: O problema é que nunca tivemos um patrão. Nós não somos de família rica, nunca tivemos alguém pagando. Nós tivemos que trabalhar, dando aula de inglês ou tocando Beatles. Então é isso, dê o seu jeito, mas nunca abandone a arte. Tem gente que se mata de trabalhar para assistir o jogo no domingo. A gente se mata de trabalhar, ou fez isso 5 anos atrás, pra poder estar viajando e tocando nos festivais, e hoje a gente vive dessa banda. Você só não pode mudar o que não deve ser mudado por conta de dinheiro. Dê outro jeito mas mantenha sua arte intacta. Isso você nunca vai se arrepender de ter feito.



No lançamento do seu primeiro CD, vocês tiveram a parceira com o Lobão. Portanto está diretamente envolvido com a história da banda. Como foi essa troca, como é a relação de vocês hoje?

Douglas: A princípio a gente nem conhecia o Lobão, a gente sabia que a revista era dele, e falamos com o pessoal dele ”ó queremos lançar o disco”. Era a mulher dele que o representava, no primeiro momento a gente nem tinha contato com ele. A gente foi ter contato com o Lobão muito tempo depois.
Hélio: Voltando ainda mais, em 99 eu me lembro que comprei na banca “A Vida é Doce”. Eu ouvi aquele disco meio trip rock e minha cabeça nunca mais voltou ao normal. Naquele disco eu chorei, sorri, me formou de alguma maneira muito profunda. Ouvi também “Noite” de 97 e “Nostalgia da Modernidade” de 94. O Lobão dos anos 80 não dizia pra mim, mas o dos anos 90 sim. Eu me lembro que no show ele falava “Nostalgia da Modernidade, 10 mil discos vendidos – um fracasso para a época”. Então ele era o fracasso dos anos 90. Mas aqueles discos disseram tanto em poética, em musicalidade, em personalidade dele falando que eu nunca mais fui o mesmo. Depois em 2006 foi curioso, a gente gravou o Som Brasil e lançou com ele ao mesmo tempo. Então, cheguei no camarim e disse “João Luiz Woerdenbag – quando sou fã eu leio a biografia – bicho, eu ouvi muito 'A Vida é Doce'. Seu disco mudou a minha vida, muito mais que 'Rubber Soul' dos Beatles ou 'Pet Sounds' dos Beach Boys”. E o Lobão ter aparecido na nossa história é algo que me emociona muito, porque é um cara que é importantíssimo pra mim. As minhas letras tem influência dele. Eu não sei até quando plagiei o Lobão. É só você digitar no Google: “Rap para o Mano Caetano” e você vê que a importância do Lobão é a mesma de um Caetano, de um Gil. É um cara que quando ele morrer, daqui 30 anos, todo mundo vai valoriza-lo e vão dizer: “O Lobão não era só aquele louco, ele era um cara muito foda”. E hoje posso dizer com o maior orgulho: O Vanguart é uma banda paralela ao Lobão. A gente é filho dele, porque é um dos maiores artistas que o Brasil já teve. E ele adotou a gente.

No Ep de 2005, vocês gravaram músicas do disco solo do Flanders. Nesse EP dizia muito que é o Vanguart. Então o que é o Vanguart? E o Vanguart de 2007 é o mesmo do disco de 2011?

Douglas: Acho que dizia muito do Vanguart de 2005, assim como em 2007, e o Vanguart em 2011 é outro Vanguart, mas continua sendo igual ao mesmo tempo.
Hélio: Isso que ele falou é exatamente a verdade. Vanguart sempre foi uma banda mutável. Era uma banda que era só eu tocando voz e violão. De repente chamei a rapaziada e virou outra coisa. Em 2007, com Semáforo e músicas em português virou outra. A gente sempre buscou lançar um trabalho que diga o que você é. Sempre lançamos algo, e a partir daquilo começamos a tentar desmentir o que nós éramos. Que é um comportamento artístico por natureza. O que nós fomos em 2007, em 2009 nós desmentimos. Em 2011 nós desmentimos o que nós eramos em 2009. E no próximo álbum, obviamente faremos o mesmo. O nosso último disco é muito triste e estamos num momento muito feliz. Então logicamente a gente vai deixar de ser o que somos no próximo álbum. Acho que isso é o Vanguart. Não estamos fazendo nada novo. A gente só está deixando de ser o que nós éramos.

(Uma breve pausa do papo. Hélio termina a resposta elogiando os desenhos do David. O guitarrista passou a entrevista toda desenhando caricaturas do resto da banda, inclusive algumas nossas também. Ele justificou que “se não fizer isso ele se descontrola”).

E como é a sua relação com a Cida Moreira, Hélio?

Hélio: Bicho, eu gosto de quem morre no palco. Tem até uma frase do Emicida: “escrever é como quem vai morrer no dia seguinte”. A Cida Moreira eu a conheci em 2000, cantando Bertolt Brecht. Aí eu tava em São Paulo em 2007 e um amigo meu falou “fui no show daquela cantora que você gosta”. Fui falar com ela no camarim e me disse que conhecia Vanguart. Ela gravou “Semáforo” num projeto Pixinguinha que fez. E eu fiquei absurdamente maluco porque é uma das minhas cantoras favoritas. E desde então a Cida é uma referência pra mim, musical e pessoal. Se eu estou perdido, eu ouço um disco dela, eu ligo pra ela, eu vou na casa dela e a gente se resolve. Ela tá na capa do disco e vai participar de coisas seguintes. A gente faz shows com ela. É uma das maiores cantoras do Brasil. Por que que ela não é uma Bethania? Porque nunca agradou ninguém. No Brasil você paga um preço caro por ser isso. No show dela vai ter 400 pessoas que morrem por ela. E no show do Paralamas vai ter 10 mil que nem sabem o que tão falando. O Brasil carrega um pouco disso. Sem achar que a Cida é foda demais nem a gente. Mas você paga um preço caro pra falar a verdade no Brasil. E a Cida Moreira é isso.

Em relação ao último CD, esse parece ter uma maior preocupação com a melodia, com a poesia, com a canção. E como foi introduzir o trompete, e a Fernanda com o violino?

Hélio: O trompete eu já estava aplicando esse golpe em casa, foi natural botar em algumas músicas. A gente queria deixar de ser a gente, então naturalmente a gente mudou alguns elementos. Eu queria parar de tocar violão um pouco. Conhecemos a Fernanda fazendo um show de Bob Dylan e chamamos ela sem pretensão. Ela arranjou duas músicas: “Das Lagrimas” e “O Que A Gente Podia Ser” e vimos que era o que faltava. Então ela acabou vindo com a gente nessa loucura. Vestiu a camisa de uma maneira muito bela.

Fernanda: Tenho a ver com a história do Vanguart, nessas coisas de quebra de padrão. Violino não tem que necessariamente estar numa orquestra, tocando em casamento ou tocando nesse segmento que todo mundo o vê. E mesmo porque em muitos outros países, violino é instrumento de banda. Hoje tem o movimento “new-folk”, que virou meio carne de vaca. Mas não era bem isso que a gente queria aqui no Vaanguart. Era realmente de quebrar alguns estigmas.
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A conversa ia se encerrando ao mesmo tempo que o SESC já esperava sairmos para fechar. Algumas brincadeiras de semelhanças do produtor com o baterista, uma chamada pro Bar da Rosa e um bate-papo ia se encerrando, pelo menos naqueles cantos.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Jack White: "... and show me how it's all my fault"



"Love Interruption" é single do álbum solo Blunderbuss que sai 23 de abril.

Vanguart e os meus 22 anos



"E aê cara?! Vi você cantando todas as músicas lá!" Tinha meus 18 anos quando ouvi essa frase. Seis anos depois escuto a mesma sentença. Mas, obviamente, tiveram significados diferentes. Quem disse foi Hélio Flanders, depois de um show do Vanguart. O primeiro em São José dos Campos e o segundo em Bauru.

Muita coisa mudou. Eu era um perdido estudante de cursinho que por alguma razão queria ser jornalista. Tinha escutado inúmeras vezes o primeiro disco do Vanguart e os EPs anteriores, Ready to Vallegrand e The Noon Moon. Tinham algo de estranho nas primeiras audições, mas com o tempo o disco se tornava mais íntimo. Era um caminho diferente a seguir. Folk, rock, metáforas sobre drogas ("Last Express Blues"), citações diretas ao álcool ("Cachaça"), covers de Raul, um cabelo parecido com o meu o qual queria se parecer com o de Bob Dylan... Houve uma identificação ingênua e esperançosa, de alguém que tinha uma nova vida inteira pela frente, repleta de novas histórias e pessoas. Comecei a ler On The Road, ouvir Dylan e gostar de cultura, música.

Agora quatro anos depois, estou mais cético quanto a imagem do Vanguart para mim. Após o show ele citava São Paulo, canções de Dylan, indicava Albert Camus para a Flan, cantou Luís Gonzaga... e falava muito. Pode ser coisa de jornalista (?) mas sempre fico com um pé atrás com admirações exageradas. No entanto, escrevo escutando Blood Money, do Tom Waits.

O último disco, Boa Parte de Mim Vai Embora, é sobre dores de relacionamentos, autobiográfico até a raiz e velado por metáforas às vezes vazias, outras lindas, lindas. Hélio usa o que viveu pra produzir alguma coisa, neste caso um disco. E apesar de eu estar mais ranzinza quanto a tudo e todos, ainda acho um disco bom, de momentos bonitos. A tentativa de fazer poesia em música é sempre louvável, ainda mais quando dá certo em cinco ou seis faixas, o que é muito pra hoje.

(E eu te levei até a praia/ E eu me desfiz da minha esposa/ E eu joguei fora o meu dinheiro/ Fechei a porta pra um amigo/ Eu só sonhei meu desengano/ Eu desenhei as tuas pupilas)

Ele tem 26 agora. Tinha 22 antes. Tenho 22 agora.

A vida está passando. Antes era aquele trem de Vallegrand indo pra New Orleans que passava piando, vazio. Eu só com uma mala e um sorriso no rosto. Está na hora de fechar a cara, de ir e não olhar para trás, de saber falando, fazendo, andando.